
Que nos importam as origens?... Se viemos da Índia ou da Mesopotâmia, de Israel ou do Punjab?
Somos ciganos, somos rons, e é isto que nos importa! Importa sim, a união de todos em torno do ideal comum: a conquista de nossos direitos seja aqui, no Brasil ou em outros países. Importa sim, nos orgulharmos do que somos, de nosso sangue, de nossa cultura, de nossas tradições.
Importa não esquecermos os nossos valores, as nossas crenças, o nosso jeito de ser. Porque para sermos ciganos: rons, calons, sinti, etc., precisamos viver a filosofia de vida cigana. São muitos clãs, muitos dialetos, maneiras e costumes peculiares abrigados debaixo de uma mesma bandeira e hino, irmanados por uma tradição e cultura comum a todos. Alguém me disse certa vez que um cigano sempre reconhece o outro esteja onde estiver,pois a força do sangue nos aproxima como um imã,um magnetismo misterioso. Acredito muito nisso. Acredito no poder do destino que nos une e na força da amizade e da união!
Infelizmente nos dias atuais, para sobreviver, muitos de nós transformam-se em gadjês, assumem a postura gadjê. Para conquistar um lugar ao sol na sociedade não-cigana muitas vezes foi preciso esquecer ou esconder jeitos e costumes, crenças e tradições. Porque a maioria dos gadjês rejeita o que é diferente, discrimina quem foge dos parâmetros exigidos por suas instituições. Pura ignorância. Mas, que importância tem o exterior? O importante é o que vai na alma! Não podemos jamais perder de vista nossa ciganidade mesmo vivendo numa sociedade que nos massifica nos discrimina e nos torna invisíveis. Fala-se muito em preconceito, discriminação, xenofobia por parte dos gadjês. Mas, o que dizer quando sabemos que existe também preconceito entre os ciganos em relação àqueles, que embora sendo descendentes, possuem sangue mestiço, um “posh-rat” como falam na Irlanda? Chega de separações, invejas, suspeitas e medo, preconceitos e discriminações absurdas. Sejamos pontes e não ilhas. Cada um dê um pouco de si.Caminhe um passo em direção ao outro. Necessitamos de respeito mútuo e de união, de conhecimento e discernimento, de afeto e consideração. Separados jamais seremos vitoriosos na luta pelo que merecemos. Somos orgulhosos sim, de nossas origens, de nossas tradições e desejamos justiça e não caridade, porque a caridade como disse Galeano, é exercida verticalmente, de cima para baixo. Queremos ser tratados de igual para igual, como seres humanos que somos, e essa atitude de igualdade e solidariedade se expressa horizontalmente. CEZARINA MACEDO.
Texto extraído do artigo "HORIZONTES CIGANOS/ REVISTA JANELLÁ-Fevereiro/2012.
