O CÉU É O MEU TETO,A TERRA É MINHA PÁTRIA,A LIBERDADE É A MINHA RELIGIÃO!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

NÓS,OS CIGANOS...

Serendipity
                          PINTURA DE JOSEPHINE WALL.




A alma musical, poética dos ciganos, essa sensibilidade que nos distingue, que nos dá força para vencer obstáculos, discriminação, sofrimento, é a nossa marca, a nossa herança, o nosso orgulho ancestral!
E como nos diz SPATZO no final de seu poema “LIBERDADE”

A nossa é uma vida simples, primitiva.
Basta-nos ter o céu por telhado,
um fogo para nos aquecer
e as nossas canções, quando estamos tristes.


Na música expressamos melhor o que nos vai n’alma: a tristeza ou a alegria.
Nossos sentimentos são intensos e naturais como os fenômenos da natureza: fortes como os ventos das tempestades, puros como as águas, ardentes como as chamas de nossas fogueiras, delicados e sensuais como a maciez das pétalas perfumadas das rosas... Somos orientais e, como tal, amamos os prazeres da vida, vivendo intensamente cada segundo sem pensar no amanhã, pois ele pertence a Deus, pertence ao Anankê, ao Destino.                                                                             Amamos a paz e, nunca fizemos guerras! Disso nos orgulhamos.                                                                                                                                                                  Somos ponte, traço de união entre Oriente e Ocidente. Mesmo que os gadjês desconheçam ou ignorem propositadamente, somos a solda que uniu raças, crenças e culturas do mundo inteiro nas nossas intermináveis andanças. Um pouco de nós está escondido em cada ser humano: o sonho de liberdade, a busca eterna da Beleza, a expressão das emoções, das palavras e dos gestos, livres de medos ou preconceitos, a alegria inocente e espontânea.
Devemos ser gratos à Dhiel pela abundância de dons que herdamos. Isto nos faz os seres mais ricos e os mais felizes, embora tenhamos sofrido perseguições, discriminação, miséria e morte ao longo dos tempos, por culpa da ignorância e do preconceito. Nossa missão neste mundo é uma linda e dignificante missão: a de levar a alegria e a beleza a todos os lugares. Somos os menestréis (poetas e cantores andarilhos da Idade Média) da vida.
Somos, é verdade, plenamente humanos, com defeitos e qualidades, iguais a todos os outros homens deste planeta, sejam de que raça for. Esta humanidade nos iguala, nos faz companheiros da mesma caravana, da mesma viagem no Vurdón do Tempo. Faz-nos gente. Torna-nos a todos irmãos e com o mesmo direito à felicidade.
Conta uma lenda que Deus chamou os seres humanos e distribuiu as profissões: artesãos, pintores, decoradores, médicos, professores, engenheiros, etc. E o último a chegar foi o cigano, com palhas nos cabelos. Ele acabava de sair de um celeiro onde estava dormindo, porque, como de hábito, é preguiçoso. E perguntou a Deus:” Então, e eu, o que é que me dás?” Deus disse: “Não tenho mais nada para ti... Chegaste tarde demais .” Então o cigano foi saindo desapontado, mas Deus, com a sua bondade infinita, disse: “Espera um momento! Afinal, tenho algo para ti...” E deu-lhe um violino.

CEZARINA MACEDO.(Artigo publicado na revista cigana JANELLÁ-SABER,CONHECER).

Um comentário:

Barachinha disse...

Parabéns pelos textos e pela bandeira levantada... Descobri hj uma vizinha cigana, ela mudou o comportamento por amor ao seu companheiro, em uma curta conversa ela me mostrou um mundo encantador!