Tela de Antonio Fuertes (Madrid, 1940).
SOZINHA
A noite pinga
em gotas, lentamente,
sua ânfora de solidão
dentro de mim...
Minha alma
se espreguiça
e se enrosca
em si mesma,
numa letárgica
semiconsciência
de água-viva,
nalgum mar interior.
Sinto falta de ti,
sinto falta de amor.
E estás tão próximo!
Apenas algumas ruas silenciosas
nos separam, ou, talvez
a escura névoa
desta noite escura.
Meu corpo anseia pelo teu,
e no silêncio da noite,
ouço tua respiração,
como se ouvisse, bem longe,
o ruído do mar.
Minha boca pede a tua boca,
num louco desespero vão, de te
beijar...
Estou à deriva, sem rumo,
nessa escura correnteza,
onde as estrelas ou,
- quem sabe? Os vagalumes?
traçam riscos de luz
na escuridão dos campos...
Se tu soubesses
a dor, que como um punhal
me rasga e dilacera o coração
dentro do peito,
por certo, tu virias.
Choro lágrimas
silenciosas e inúteis,
que escorrem lentas, soltas
e vão formando
um rio,
cujas águas revoltas
me arrastam,
irremediavelmente,
para o fundo,
onde vou morrendo
aos poucos,
longe de ti!
Cezarina Macedo/2009- (IN HARPA DOS VENTOS-Editora Novitas.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário