(...) Por desconhecerem a realidade sobre a etnia
Romani as pessoas vêem os ciganos através de um véu de misticismo, de sonho, de
inverdades. Cultuam a figura mítica e não a figura existencial.
Fazem da ciganidade um culto, uma
idolatria, uma religião, um estereótipo.
Para a maioria dos gadjês, ciganos
vestem-se sempre de roupas coloridas e de luxuosos tecidos,vivem em festas onde
cantam,dançam,comem e bebem... São magos e poderosos feiticeiros, conhecendo
todos os segredos da magia e do Destino.
Sem ocupações outras do que
aquelas que ocupam o imaginário social. Além de andarmos invisíveis por aí, diariamente,
só aparecemos à noite nas festas ou nos cultos religiosos; quando muito, se
dignam a nos vislumbrar nas ruas ou praças das cidades como leitores da sorte
nas mãos (Embora isto nos orgulhe, somos muito mais...). E o pior é que alguns
ainda nos vêm como trapaceiros, espertalhões de prontidão, preguiçosos, vagabundos,
sempre em busca de uma boa ocasião para obter lucros sem fazer nenhum esforço! Marginalizaram-nos
ao longo da história, nos perseguiram e quase nos extinguiram, em nome de
mentiras criadas pelos que sempre estiveram no topo das sociedades e das religiões,
dos impérios ou das repúblicas... Negaram-nos
tudo, até mesmo o direito de usar nosso próprio idioma, nossa própria cultura,
sob ameaças cruéis.
E ainda hoje é assim, embora um pouco
melhor em alguns países.
Não sabem, ou esquecem que somos uma raça
como qualquer outra que vive neste vasto planeta. Que somos gente comum. Que
somos feitos da mesma carne perecível, possuidores dos mesmos sentimentos, das
mesmas fragilidades ou fortalezas, dos mesmos desejos, das mesmas emoções compartilhadas
com todos os seres humanos. Temos uma alma. Somos pessoas e não mitos!
Somos dignos, honestos e trabalhadores,
inteligentes e versáteis, embora a sociedade gadjê teime em ignorar nossas
capacidades e valores reais e humanos. Porque é mais fácil ignorar os mitos.
Tanto isto é verdade que, conhecendo melhor
os ciganos reais espalhados pelo mundo em todas as épocas, nos deparamos com um
grande número de sábios, cientistas, músicos, atores, dramaturgos, escritores,
poetas, artistas, políticos e hábeis estadistas de origem romani. Na verdade, também vivemos (anonimamente) em
barracas, cruzando estradas em busca do sustento de nossas famílias; somos
artesãos hábeis em todos os metais, mecânicos, comerciantes, quiromantes, também.
Somos sim, inteligentes, sagazes, com muita capacidade de driblar os
obstáculos, resolver difíceis problemas da vida, talvez isto seja resultado de
todo o sofrimento e perseguições que sofremos no passado e que ainda sofremos,
nos dias que correm. A nossa alma saiu fortalecida pelas barreiras que
transpomos no caminho... Quanto mais nos dificultam as coisas, mais fortes e
unidos ficamos! (...)
Cezarina Devos Macedo.
Texto extraído do meu artigo na Revista Janellá/2012: "CIGANOS VERDADEIROSX CIGANOS ESTERIOTIPADOS".
IMAGENS DO GOOGLE
2 comentários:
Lindos amantes da natureza e jardins de alegrias...assim vejo um povo que sabe viver seus belos e misteriosos viveres..
Abraço
Parabéns Cezarina,
essa luta tem de chegar aos olhos de todo cidadão no mundo e dele precisamos muito que a verdade sobre o estereótipo e o romantismo se transforme em políticas públicas adequadas e reais.
bjs com admiração
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